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where the crazy matters

19/11/2014

Por Que É Que Não Esperaste?

Sou mesmo uma actriz do caralho. Sou mesmo.
Conversas banais, cordiais. Mas não sobre os meus olhos inchados. Nunca sobre os meus olhos inchados.
Quanta simpatia. Quanta alegria. Como se fosse um dia normal. Como se não estivesse a morrer por dentro.
Só a voz denuncia algo de errado: constipação.
- Então Sílvia, estás bem? Epá estás muita constipada.
- Um bocadinho.
- Um bocadinho não: um bocadão!
Sim. É isso mesmo. Hoje, 19 de Novembro de 2014, foi o dia mais difícil de suportar de toda a minha vida. E passou por uma constipação.

Hoje, 19 de Novembro de 2014, o meu cão morreu. Corrijo: uma parte de mim morreu.
O Chopin morreu. E é para Ele que escrevo a partir de agora:


O resto da tua família já estava mentalizada para isto. O resto da tua família já aceitara que isto aconteceria "mais dia, menos dia". Mas eu não.
Eu nunca me deixei acreditar. Para mim era uma possibilidade muito remota. "Não, isso não vai acontecer. Ele ainda chega aos quinze. Vão ver." E eu é que vi. Perdi a merda da aposta mais importante da minha vida.
Imaginei muitas vezes como seria perder-te, imaginei que chorava muito (e chorava muito enquanto imaginava) e tentava convencer-me de que um dia tinha de ser.
E agora aconteceu e eu chorei, Pan. Ainda estou a chorar e não há meio de parar. Já nem sinto a cabeça de tanto que me dói.
Foste o melhor cão do mundo. Já sei, toda a gente diz isso. Mas tu foste! E nunca nenhum outro há-de igualar-se a ti. Tu tinhas personalidade. Forte. Só fazias o que querias! E ainda bem, tenho tantas histórias tuas para contar!
Nasceste um rebelde e acabaste na coisa mais meiga deste mundo. Eu não acredito que não há mais Chopin. Eu não acredito que nunca mais te vou dar abracinhos. Eu não acredito que não vou voltar a dar-te os biscoitos que estão em cima do frigorífico. Eu não acredito que não vou ver mais esse queixinho a tremer de tanto mimo! Eu não acredito. E tanto que me dói.
Eu estive aí perto, no fim-de-semana passado, sabes? E não fui ver-te! Fazes ideia de como me sinto por isso? Soubesse eu que era o teu último fim-de-semana... cabra estúpida! Desculpa.
Matava-me sempre deixar-te para trás. Eu pedia-te sempre que esperasses mais duas semanas e dizia que te amava muito. Num sussurro para mais ninguém ouvir. Só nós dois.
E tu esperaste sempre. Por que é que não esperaste desta vez?
Sabes, é que eu sempre tive esta fantasia de que estaria aí contigo. Que perceberia o quando e abraçava-te enquanto ias... Por que é que não esperaste?
E agora nunca mais te vou ver na vida.
Dava tudo para ter sabido quando. Dava tudo para ter estado contigo. Desculpa não ter estado contigo!

Gosto tanto de ti, Pan! Vou ter tantas saudades tuas! Aquela casa sem ti não faz sentido...



















Para sempre.


Sílvia.